No Ato de fundação da Escola Lacan convoca os analistas e não analistas ao trabalho que “por uma crítica assídua, denuncie os desvios e concessões que amortecem o progresso da psicanálise, degradando seu emprego”. Propõe uma formação a ser dispensada neste movimento de reconquista do campo aberto por Freud e esclarece: “Os que vierem para esta Escola se comprometerão a cumprir uma tarefa (…) sendo-lhes assegurado, em troca, que nada será poupado para que tudo o que eles fizerem de válido tenha a repercussão que merecer, e no lugar que convier”.
A Escola, portanto, deve dar lugar ao trabalho de cada um. É o trabalho de cada um que sustenta cada um na Escola. É com este trabalho que solicitamos e conquistamos, passo a passo, a interlocução junto aos pares.
Em sua última definição de Escola, em 1980, Lacan afirma que nela faz falta: uma caixa postal e um correio que faça saber o que, nesta caixa, se propõe como trabalho; um fórum para intercambio; a publicação e a instauração de um turbilhão que seja propício a assegurar (…) o efeito de discurso esperado da experiência, quando ela é freudiana.
Essas indicações nos orientam e nos permitem concluir que um agrupamento de lacanianos e o nome Escola Lacaniana não bastam para garantir o funcionamento de Escola. Trata-se sempre de insistência e verificação da formação permanente que uma Escola dispensa aos analistas que aí depositam, num movimento permanente, suas formações do inconsciente, recolhidas em análise e no convívio com os irmãos-rivais, para articulá-las na teoria.
Com isso, ao lugar denominado Direção da Escola, ocupado, a cada dois anos, por um de seus membros caberá representar a Escola nas articulações com outras Escolas e manter o diálogo internamente com os demais lugares instituídos.
A partir da escuta, este que ocupa o lugar da Direção cuidará de dar aos trabalhos realizados a repercussão que merecer, e o lugar que convier. Considerando sempre que os espaços de fala da Escola são feitos para deixar cair os restos de um luto advindo do trabalho com os significantes em análise, que atrelados aos significantes de Freud e Lacan podem servir para melhor dizer a teoria, a Direção da Escola, junto com os outros lugares, se encarregará de recolher e fazer chegar ao destinatário, os pares, o público, as leituras e restos de um, para que outros façam dessa letra, uso próprio.
A Direção da Escola estaria sempre atenta em manter o trabalho dos analistas na oferta de interlocução, movimento pulsional de fazer ressoar no outro o seu dito. Esta é a visada que, privilegiada, deixa todo o resto fora do jogo, fora de cena.
A Escola existiria para insistir e permitir que esse que alcançou algum saber-fazer-com o sintoma tenha lugar e interlocução para dar voz a um suposto saber-fazer-com o saber?